quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Os Perfis

Como havia dito no primeiro post, Porque a Ribeira?, o fotodocumentário também apresenta três perfis de moradores da Ribeira: Cecy Ramos Costa Bahia, Reginaldo de Sousa Bonfim Filho e Prentice Sacramento de Cravalho. São três breves textos que apresentam quem eles são e o que a Ribeira significa em suas vidas. Vamos a eles?



A apaixonada por Itapagipe

“A Guardiã de Itapagipe”. É assim que Cecy Ramos Costa Bahia,77, é conhecida em toda a península. Nasceu na Rua da Glória, no bairro da Saúde, centro de Salvador.  Seus pais vinham para veranear na Ribeira, quando ela tinha dois de idade, e aos poucos, o veraneio deu lugar à residência fixa, onde está até hoje. Escritora nas horas vagas contribuiu junto com Antônio Cedraz, criador dos quadrinhos A Turma do Xaxado, o livro A Península de Itapagipe em quadrinhos, que conta a história de península e de seus principais pontos turísticos. Foi a responsável pela construção da Biblioteca Professor Edgard Santos, a primeira de Itapagipe, e da Escola Municipal Simões Filho, em Alagados, na qual realizava trabalhos sociais com alunos e pais.


Ela é autora do livro A Península de Itapagipe em quadrinhos, que conta a história da península.





Celebração das Bodas de Prata dos pais em 1° de julho de 1958. Cecy é a última da ponta direita. Acervo Pessoal de Cecy Ramos Costa Bahia.



Cecy guarda boas lembranças do tempo em que era criança e tinha liberdade para brincar na rua e de ver aviões no Hidroporto dos Tainheiros. “Brincava de picula e de amarelinha, enquanto minha família ficava sentada no passeio conversando. Lembro-me dos passeios que fazíamos no domingo pela tarde, de ver os aviões amerissar no hidroporto, da tranqüilidade e segurança que o bairro oferecia”.  A antiga balaustrada, que ia do começo da Av. Mem de Sá até o final do Largo da Ribeira, só restou um grande bloco branco, paralelo ao passeio. O ‘murinho’ como a chama, nada lembra a balaustrada do passado, em que as pessoas assistiam as regatas, namoravam e conversavam com os amigos. Cecy se declara como uma amante da Ribeira e de toda a península, trabalha em prol da sua melhoria e qualidade. “Defendo muito este lugar, pois além de ser bela, contribui para a história da cidade e jamais pode ser esquecida. É necessário que o Poder Público e os seus moradores, cuidem e preservem Itapagipe”, enfatiza Cecy, que possui mais de 20 poemas declarando a sua admiração a península.




O saudoso líder comunitário
Reginaldo de Sousa Bonfim Filho, 46, nasceu em Alagados, bairro que até hoje mora e luta por melhorias. Ele é presidente á um ano da Associação de Moradores de Alagados, cuja sede que se localiza próximo a Escola Simões Filho, recebeu em 1970 a visita do presidente John Kennedy e da Rainha Elisabeth. O bairro tem esse nome, pois, quando a maré enchia a água tomava as casas, alagando-as. Quando menino, brincava com seus amigos e tinha o mar, como a extensão de sua casa. “Como estava próximo do mar, da porta de casa a gente mergulhava na água, havia uma ponte próximo a minha casa em que eu pescava siri e peixe. Tive uma infância alegre aqui”, lembra. Na época de Reginaldo não havia água potável, nem luz elétrica, hoje a infraestrutura de Alagados melhorou, a maioria das suas ruas já estão aterradas e asfaltadas, e grande parte da comunidade possui acesso a saneamento básico. As poucas palafitas que ainda restam, serão erradicadas até meados de 2012 pelo programa de casas populares da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER). Como líder comunitário do bairro, Reginaldo matem uma política que proporciona o bem estar de crianças e adolescentes de Alagados. “Temos uma parceria com a entidade internacional cristã, a Visão Mundial, em que 250 crianças são apadrinhadas por pessoas do mundo inteiro, que financiam o acesso dos meninos a escola, dando sapatos e materiais escolares. Buscamos os garotos para participarem das atividades da comunidade. Para os jovens oferecemos arte e cultura, como forma de educação e inclusão”.





Reginaldo foi coroinha da Igreja da Penha, período que segundo ele, foi de grande aprendizado na catequese e serviu para fortalecer ainda mais a sua fé.


Reginaldo é o primeiro à esquerda, na sua Primeira Comunhão na Igreja da Penha em 1975. Acervo pessoal de Reginaldo de Sousa Bonfim Filho.


A Ribeira para ele sempre foi um lugar para a sua diversão. “Lembro-me dos passeios aos domingos no Largo da Madragoa, para ver as bandinhas de marcha tocar no coreto, que hoje não existe mais, de passar à tarde na praia da Penha brincando e depois ir tomar um sorvete na Sorveteria da Ribeira. Havia um parquinho que todas as crianças brincavam nos balanços e na escorregadeira, que sempre tinha fila para cada um poder usar. Foram tempos muito bons”, relembra, que se pudesse, gostaria de voltar no tempo e reviver os momentos que lhe proporcionaram muitas alegrias na infância.


O mestre dos azulejos


Quem passa pela Avenida Mem de Sá, e observa o grande casarão, n°70, de aspecto envelhecido, não imagina o mundo de cores e formas que se instaura ali dentro. O artista plástico Prentice Sacramento de Carvalho, 68, escolheu há 44 anos o casarão de veraneio da família para morar e montar o seu ateliê com as suas obras. A origem do seu nome é inglesa, e significa “o aprendiz de Deus”. Nascido no Pelourinho, berço da arte em Salvador, começou a pintar muito jovem. Foi aluno do pintor e desenhista Presciliano Silva, com quem aprimorou seus dotes artísticos. Como tela, escolheu os azulejos, pois “expressam muito bem as pinturas e aderem melhor tinta”, diz. Os azulejos retratam um pedaço da Bahia, como as belas paisagens, religiosidade, orixás, as famosas igrejas e as baianas de acarajé que encantam a diversos turistas do Brasil e do mundo, que diariamente visitam o casarão, levando as suas criações. Prentice também já recebeu diversas personalidades, ministros da Rússia, Índia, Coréia do Sul e Angola. A visita mais marcante até hoje, foi a do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em 2009. “Além de ser muito simpático, o ministro e eu conversamos sobre pintura e artes. Ele entende do assunto. Ele falou sobre os futuros investimentos que o Ministério da Cultura está planejando executar”
Prentice tem suas obras espalhadas por diversos locais de Salvador, como Pelourinho, Obras Sociais Irmã Dulce e Igreja de Mãe Rainha, no Cabula.


Reprodução de uma foto antiga sua no azulejo.

Ele reproduz nos azulejos figuras de orixás e as diferentes formas geométricas e personagens que compõe Salvador.


Seus trabalhos estão espalhados por diversos cantos do país, como São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco e Rio de Janeiro. No Centro Histórico, os nomes das ruas foram sinalizados com o seu estilo. Em relação à Ribeira, Prentice enfatiza o seu respeito ao bairro. “É a Ribeira que me deu o reconhecimento do meu trabalho, é o lugar onde eu moro, onde eu faço as minhas criações e onde eu me relaciono com as pessoas. Aqui vivi bons momentos, me lembro de acompanhar as regatas da balaustrada, e de passear tranquilamente. Hoje a Ribeira precisa de investimento em infraestrutura e segurança, que é o seu maior problema”, conclui. Apesar dos contratempos que afligem o bairro, Prentice mantém a simpatia e nunca perde o bom humor. Está sempre preparado para receber os visitantes e contar histórias sobre a sua arte e sobre a sua vida.





2 comentários:

  1. Oi Morgana . O blog tá sendo útil. Ta vendo?

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  2. Boa tarde, Cecy Ramos Costa Bahia! Gostaria do seu contato para condidá-la para uma roda de conversa com escritores

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